Vez ou outra lembro minha
infância e nossos telefones pareciam funcionar melhor do que hoje!
Aqui no Brasil exercitamos o tempo todo uma virtude: a Paciência! Creio que somos um dos povos mais resilientes no que tange a utilização dos serviços de telefonia móvel e de internet que de larga só tem o preço e banda me lembra metade qual não chega nem a isto o recebemos das operadoras!
Aqui no Brasil exercitamos o tempo todo uma virtude: a Paciência! Creio que somos um dos povos mais resilientes no que tange a utilização dos serviços de telefonia móvel e de internet que de larga só tem o preço e banda me lembra metade qual não chega nem a isto o recebemos das operadoras!
Quem nunca passou pela situação
de estar conversando com um amigo, com um fornecedor, com um cliente e no meio
da conversa a ligação cair? O pior é que ainda rimos de nossa desgraça ligamos
novamente para nosso interlocutor e ainda comentamos: “ahhh esta operadora
fulana de tal está horrível! A ligação vive caindo!”
Quando tudo "cai" tenho
que fazer sinal de fumaça, pois, é a única maneira que encontro para me
comunicar! Mas quando chove nem sinal de fumaça é possível!
Que bom que em alguns Estados a justiça vem se posicionando! Então minha gente o negócio é reclamar!
Em 2012, Rubens Braga completaria
99 anos e se estivesse por aqui não precisaria escrever uma nova crônica, pois
“O telefone” escrito na década de 1950 continua atual! Affff!
O Telefone - Crônica de
Rubem Braga
Honrado Senhor Diretor da Companhia Telefônica:
Quem vos escreve é um
desses desagradáveis sujeitos chamados assinantes; e do tipo mais baixo: dos
que atingiram essa qualidade depois de uma longa espera na fila.
Não venho, senhor,
reclamar nenhum direito. Li o vosso Regulamento e sei que não tenho direito a
coisa alguma, a não ser a pagar a conta. Esse Regulamento, impresso no página 1
de vossa interessante Lista (que é o meu livro de cabeceira), é mesmo uma
leitura que recomendo a todas as almas cristãs que tenham, entretanto, alguma
propensão para o orgulho ou soberba. Ele nos ensina a ser humildes; ele nos
mostra o quanto nós, assinantes, somos desprezíveis e fracos.
Aconteceu, por exemplo,
senhor, que outro dia um velho amigo deu-me o prazer de me fazer uma visita.
Tomamos uma modesta cerveja e falamos de coisas antigas — mulheres que
brilharam outrora, madrugadas dantanho, flores doutras primaveras. Ia a
conversa quente e cordial, ainda que algo melancólica, tal soem ser as parolas
vadias de cupinchas velhos — quando o telefone tocou. Atendi. Era alguém que
queria falar ao meu amigo. Um assinante mais leviano teria chamado o amigo para
falar. Sou, entretanto, um severo respeitador do Regulamento; em vista do que
comuniquei ao meu amigo que alguém lhe queria falar, o que infelizmente eu não
podia permitir; estava, entretanto, disposto a tomar e transmitir qualquer
recado. Irritou-se o amigo, mas fiquei inflexível, mostrando-lhe o artigo 2 do
Regulamento, segundo o qual o aparelho instalado em minha casa só pode ser
usado “pelo assinante, pessoas de sua família, seus representantes ou
empregados”.
Devo dizer que perdi o
amigo, mas salvei o respeito ao Regulamento; dura lex sed lex; eu sou assim.
Sei também (artigo 4) que se minha casa pegar fogo terei de vos pagar o valor
do aparelho — mesmo que esse incêndio (artigo 9) tenha sido motivado por algum
circuito organizado pelo empregado da Companhia com o material da Companhia.
Sei finalmente (artigo 11) que se, exausto de telefonar do botequim da esquina
a essa distinta Companhia para dizer que meu aparelho não funciona, eu vos
chamar e vos disser, com lealdade e com as únicas expressões adequadas, o meu
pensamento, ficarei eternamente sem telefone, pois “o uso de linguagem obscena
constituirá motivo suficiente para a Companhia desligar e retirar o aparelho”.
Enfim, senhor, eu sei
tudo; que não tenho direito a nada, que não valho nada, não sou nada. Há dois
dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge. Isso me trouxe,
é certo, um certo sossego ao lar. Porém amo, senhor, a voz humana; sou uma
dessas criaturas tristes e sonhadoras que passa a vida esperando que de repente
a Rita Hayworth me telefone para dizer que o Ali Khan morreu e ela está ansiosa
para gastar com o velho Braga o dinheiro da sua herança, pois me acha muito
simpático e insinuante, e confessa que em Paris muitas vezes se escondeu em uma
loja defronte do meu hotel só para me ver entrar ou sair.
Confesso que não acho tal
coisa provável: o Ali Khan ainda é moço, e Rita não tem o meu número. Mas é
sempre doloroso pensar que se tal coisa acontecesse eu jamais saberia — porque
meu aparelho não funciona. Pensai nisso, senhor: pensai em todo o potencial
tremendo de perspectivas azuis que morre diante de um telefone que dá sempre
sinal de ocupado — cuém, cuém, cuém — quando na verdade está quedo e mudo na
minha modesta sala de jantar. Falar nisso, vou comer; são horas. Vou comer
contemplando tristemente o aparelho silencioso, essa esfinge de matéria plástica;
é na verdade algo que supera o rádio e a televisão, pois transmite não sons nem
imagens, mas sonhos errantes no ar.
Mas batem à porta. Levanto
o escuro garfo do magro bife e abro. Céus, é um empregado da Companhia!
Estremeço de emoção. Mas ele me estende um papel: é apenas o cobrador. Volto ao
bife, curvo a cabeça, mastigo devagar, como se estivesse mastigando os meus
pensamentos, a longa tristeza da minha humilde vida, as decepções e remorsos. O
telefone continuará mudo; não importa: ao menos é certo, senhor, que não vos
esquecestes de mim.
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